segunda-feira, 23 de maio de 2016

LINHAS, LETRAS E SOMBRAS

- fragmentos estéticos -

 


A realidade da natureza não nos basta! Longe disso!
No labirinto de palavras e signos verte-se incessantemente o desejo e suas mil faces...
É nesse turbilhão de improvisos e impermanências que engendramos a realidade poética, ou todos os outros cenários que nos tragam alguma beleza ou nos impulsione à invenção.
Temos uma fome estética, ainda que às vezes possamos ficar inapetentes ou desapontados face ao fulgor do Real e as errâncias recorrentes do homem.
Nesse sentido, as nossas alternativas são as linhas das formas, as letras poéticas e as sombras imagéticas, nossos recursos diante do absurdo da vida.
Para experimentar uma existência, necessariamente precisamos ingerir beleza, a dieta de Deus, se Ele existir.
Esse espaço foi criado para esse fim. Para que possamos partilhar belezas que bem poderiam ser divinas, mas, que por sorte foram profanadas e, por efeito, podemos acessar para o deleite dos corpos e seus sentidos tantas vezes adormecidos no gris do cotidiano...
Inauguramos com Salgado Maranhão e Di Cavalcanti, dois brasileiros que com lápis e pincel um dia tocaram o corpo da Beleza...






Transfiguração sob o olhar de 
Di Cavalcanti 

São bocas rubras do vinho
de uma festa que não houve
são incêndios represados
são lábios sujos de love.

São segredos que se acoitam
na paisagem dos vestidos
são reveses que se atrevem
entre o haver e o havido.

Lume no lago dos olhos
que a aurora dissemina
são rumores da natura
no que é fêmea e femina.

São recatos do silêncio 
nos desacatos da cor
é a estiagem úmida
do sonho que transbordou.

(Salgado Maranhão)


Colaborou: Ary Farias